Muito ter para perder...

 

Eu já falei pra vocês que eu penso muito, penso tanto que ás vezes  acho que eu não sou muito normal não, penso quando estou cheia de coisas pra fazer e até quando estou dormindo. O curioso é que meu pensamento não liga a mínima para a lógica ou para o absurdo, para a coerência ou a total ausência dela, tampouco se importa com a ordem  cronológica dos fatos, eu simplesmente , saio por aí pensando sobre o todo, o tudo. Encaixo-me perfeitamente na sentença de Descartes:  PENSO, LOGO EXISTO. Evidentemente, que algumas vezes tenho insights que me levam a tentar policiar e até censurar alguma coisa que penso, aquele pensamento nem um pouco politicamente correto, nessas horas, eu balanço a cabeça como se pudesse apagá-lo mas é claro que isso nunca funciona. Por ocasião da minha viagem ,mais do que natural que a minha cabeça esteja a mil, entretanto, nada me ocupou mais a mente do que a sensação inquietante e desconfortável que senti ao fazer minha mala, percebi nesse gesto banal o quanto a gente complica a vida, complicação esta, que vai desde as coisas mais corriqueiras ás mais complexas, para tudo é dado uma importância, um peso, maior do que realmente é ou tem e ufa.... como foi difícil arrumar essa mala, era um tal de coloca isso dentro da mala, pra logo depois tirar,  ô tarefinha irritante.Confesso que nesse instante , já beirando o desespero e diante da minha incapacidade de arrumar a tal mala, tive inveja das pessoas práticas e simples que por escolha própria, possuem no máximo dois pares de sapatos e algumas mudas de roupa. E como uma coisa não necessariamente leva a outra,  eu comecei a divagar  sobre o quanto ao longo da vida  a gente acumula objetos, tralhas, cacarecos e parece que quanto mais velho a gente vai ficando mais evidente fica essa necessidade de guardar coisas e olha que nem precisa ser nada caro, pois, o que vale é ir guardando, acumulando, sabe Deus pra que. É o tal do exercício do Ter em detrimento do Ser.Acabei por ratificar o que já sabia, que sou um tipo de gente que no mínimo deve ser estudada,
para o bem da evolução da espécie, pois, além de ser uma "pensadora compulsiva" , há alguns anos  me tornei uma "especialista em guardar, em ter" e isso tem me incomodado.Verdadeiramente, não estou satisfeita com o meu comportamento e ando cada vez mais maravilhada com o exercício de simplificar a vida ,em  todas as suas vertentes, descomplicar para viver melhor, acumular apenas o necessário, guardar só o essencial, isso implica num desapego nunca antes experimentado por mim, consequentemente, refletirá no "outro" que está do meu lado sob vários aspectos , poderá significar  e resultar numa maior predisposição para doar  e também me doar, bem como para compreender, aceitar e amar, com mais intensidade, mais verdade e principalmente com mais simplicidade. Hoje, agora, decidi que tou pulando fora desse redemoinho insano, dessa busca extremamente materialista que tem  quase sempre o propósito de  suprir um outro tipo de carência, interior, emocional, pois, se um vazio existe ele está na alma e não há de ser um monte de quinquilharia que irá preencher esse espaço, procurar incessantemente ser uma pessoa melhor  é o que faz todo o sentido pra mim nesse momento. Precisava falar, escrever, sobre esse processo de  maturação desses tão velhos, novos, pensamentos, compreendo que pra muitos tudo isso pode parecer o óbvio ululante mas para mim até bem pouco tempo era o desconhecido, um mistério total. Eu não quero ser rica, eu quero ser feliz. DECRETO QUE A PARTIR DESTA DATA TODAS AS DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO ESTÃO REVOGADAS.